quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Meus textos sobre nós

Finalmente lembrei de postar aqui minhas colunas sobre Gramado.

Esses são os textos que escrevi para o Pois É e News, jornal e revista respectivamente, não aqueles da Zero Hora. Bem, aí estão. Bom proveito.


POIS É

Coluna Claquete


Atendendo a inúmeros pedidos de uma pessoa só, e que nem foram tantos assim, a Claquete dessa edição será diferente. Vai ser totalmente em primeira pessoa, a conjugação do egocêntrico. Isso porque estarei relatando nas próximas linhas minhas mais recentes aventuras no mundo cinematográfico.
Tudo começou na primeira semana de agosto, quando, através de uma promoção, fui escolhido para integrar o Júri Popular do Festival de Cinema de Gramado. Parênteses aqui para agradecer a Giba Assis Brasil, cujo manual de roteiro que certa vez li com certeza me ajudou a ganhar a tal promoção. Fecha parênteses. Bem, depois de acertar alguns detalhes, me fui com mais malas do que cuias serra acima. Cama, mesa e banho de graça por uma semana. Único compromisso: assistir a todos os longas-metragens do Festival.
Claro que chegando lá outras obrigações foram surgindo. Todos queriam falar com os 12 jurados populares. A imprensa estava ávida por entrevistas. Tivemos nossos 15 minutos de fama, e em rede nacional. Além disso, a organização do Festival nos conseguia convites VIP para qualquer festa. Até na Villa de Caras eu fui. Experimentei o Churrasco de Caras, o Vinho de Caras, o Sorvete de Caras, tudo do bom e do melhor.
Essa foi a parte glamourosa do Festival (ou não tão glamourosa assim – na saída, tive que visitar o Banheiro de Caras). Agora vamos ao cinema em si. A seleção de longas-metragens desse ano seguiu a proposta da dupla de curadores Sérgio Sanz/ José Carlos Avellar e afastou de Gramado os filmes “globais”. Aqueles que todo mundo vai ver só porque tem o pessoal da novela. O único queridinho do Brasil presente era Lázaro Ramos, em Cobrador – In God We Trust, mas estava concorrendo como estrangeiro. Dos filmes nacionais quem acabou ganhando foi Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais, uma espécie de documentário que ninguém entendeu direito o que era pra ser. Entre os gringos, o Kikito foi com justiça para Nacido Y Criado, narrativa de um homem que perde a família em um acidente e passa a viver praticamente isolado no sul da Argentina.
Só que eu e meus 11 colegas do Júri Popular escolhemos diferente. Demos o Kikito de longa-metragem brasileiro para Deserto Feliz. Apesar de já ser um pouco batida, a história de uma menina que resolve fugir de casa para se prostituir é muito bem filmada e contada. Merecidamente Deserto Feliz ainda recebeu do Júri Oficial os prêmios de direção, fotografia, direção de arte e música.
E El Baño del Papa foi quase unanimidade entre nós, Populares. Não era pra menos. O filme é excelente. Uma mistura de drama e comédia ao estilo O Carteiro e o Poeta é tudo o que se precisa para me conquistar. E a trama já é por natureza engraçada: ao saber que o Papa vai visitar sua cidade, um homem resolve construir um banheiro no pátio de casa esperando que a multidão de fiéis esteja disposta a pagar por uma latrina limpinha. Além do prêmio de melhor filme estrangeiro eleito pelo Júri Popular, El Baño... ainda levou para o Uruguai os Kikitos de melhor ator, atriz, roteiro e excelência de linguagem técnica.
Os prêmios técnicos, como esse último, aliás, foram dados esse ano por um Júri de Estudantes de Cinema. E tinha gente do Audiovisual da Unisinos lá. Um tal de William Mayer. Aposto que nenhuma outra universidade conseguiu pôr dois alunos em júris diferentes dentro do Festival.
Pro ano que vem, já descobri que não posso ser Júri de novo. Então acho que vou ter que me infiltrar de repórter. Enviado especial. Mas ainda dou as caras antes, no Pois É nº. 13.



NEWS


Cinema Paradiso

O Festival de Cinema de Gramado já passou por muitas fases. Lá na sua origem, em 1973, possuía um viés político. Na década de 90, as produções estrangeiras ganharam espaço, e Kikitos. Mas nos últimos anos o Festival estava um pouco sem ideologia. Muita gente reclamava que o cinema havia perdido lugar para as celebridades, e que tudo virara um circo.
Esse ano, então, a organização resolveu mudar. Os curadores Sérgio Sanz e José Carlos Avellar afirmaram que 2007 traria de volta o cinema autoral. E trouxe, embora essa expressão “cinema autoral” seja algo difícil de explicar. O fato é que a seleção dos longas-metragens das mostras competitivas foi bem eclética. Tinha de tudo. Desde documentários, como Condor e Cocalero, até filmes feitos de cinéfilos para cinéfilos, como Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais, que, aliás, levou o Kikito máximo.
Mas vou me deter aqui nos vencedores dos prêmios do Júri Popular, do qual eu tive a honra de fazer parte.
Começando pelo estrangeiro. El Baño del Papa (Uruguai/Brasil, 2007) mostra a pequena cidade uruguaia de Melo às vésperas da visita de João Paulo II, em 1988. Como eram esperados 50 mil visitantes para a missa, os habitantes do lugar acreditaram que ficariam ricos se vendessem comida e bebida para toda essa multidão. Beto, no entanto, pensa mais à frente e resolve construir um banheiro. Como é dito no próprio filme, uma história real que só o acaso impediu que acontecesse.
El Baño... foi de longe o filme estrangeiro mais aplaudido no Festival. Com razão. A história simples e com uma pitada de humor cativa o público. O elenco, então, parece nem atuar. É tudo muito natural. Não é à toa que o longa ainda conquistou os Kikitos de ator e atriz, para César Troncoso e Virginia Méndez, além de melhor roteiro e prêmio da crítica.
Já entre os representantes nacionais, o Júri Popular elegeu Deserto Feliz (Brasil, 2007) como o melhor do Festival. Dirigido por Paulo Caldas, o filme narra a trajetória de Jéssica, uma adolescente de 15 anos que abandona a família no interior nordestino e passa a se prostituir em Recife. O tema logo nos remete a O Céu de Suely, até porque parte do elenco está presente nos dois filmes, mas isso não compromete a originalidade de Deserto Feliz. Paulo Caldas guia a protagonista Nash Laila muito bem e ainda cria com maestria cenas perturbadoras.
Agora, passado o Festival, resta esperar que os filmes – pelo menos os premiados – consigam estrear em todo o país, para que o grande público possa assisti-los.


E essa foi a foto que acompanhou o texto. Da ótima fotógrafa Melina Savi. Conhecem?

Festival de Cinema de Gramado (re)amadurece aos 35 anos

2 comentários:

roro disse...

L-O-V-E-D o texto pro Pois É!.

roro disse...

LOVED o texto pro Pois É!